Outro dia em que eu estava lendo um dos famosos jornais on-line, e dei de cara com um artigo intitulado: "Se você pudesse apagar algo de seu passado, faria isso? "* eu decidi primeiro filosofar sobre a pergunta e, só depois, ler o artigo. Se alguém tivesse feito esta pergunta a mim dez ou quinze anos atrás, minha resposta provavelmente seria afirmativa e apontaria quais as partes do meu passado que eu gostaria de apagar. Porém, hoje eu olho para isto de forma completamente diferente. Este pode ser um dos benefícios de amadurecer: Hoje eu vejo minha vida como um livro interessante. Cada uma de suas páginas é valiosa, porque contribui para um fascinante, luminoso todo. E a coisa mais agradável de tudo isto é que o livro ainda não está completo, porque há parágrafos novos escritos diariamente, preparo páginas novas e, no final das contas, capítulos novos.
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Claro que isto não se aplica somente a mim. Todo o mundo está escrevendo o seu próprio livro o tempo todo. A diferença pode ser que nós não estamos todos igualmente interessados em criar capítulos novos. Wim Sonneveld, antigo famoso comediante holandês, registrou uma fala de um velho homem em uma enfermaria, ao relembrar sua esposa. Em um tom lamentoso ele a comparava a um bom livro, mas que ele já tinha terminado. Isto pode soar engraçado, mas se você analisar bem, também pode indicar um dos seguintes fatos:
1) A esposa dele era falecida (o que acredito que era o caso aqui),
2) A esposa dele estava viva mas tinha deixado de acrescentar novos significados à vida dela, assim não havia nenhum mais elementos de surpresa na relação deles, ou
3) Ele perdeu o interesse pela sua esposa, como acontece em tantas longas relações, e assim não se interessava mais pelas possíveis novas dimensões que ela tinha a oferecer.
Claro que nós não podemos evitar que outros percam interesse por nós, mas podemos cultivar interesse pelas nossas próprias vidas. Colegas, sócios, amigos e até mesmo os familiares entram e saem de nossas vidas, mas não há como escapar de si, ao menos enquanto nós não repousamos em nossos próprios túmulos.
E assim, nós continuamos a escrever o nosso livro, mas nós fazemos isso do nosso próprio modo: nós podemos preeencher páginas e páginas periodicamente com um padrão monótono de ocorrências previsíveis ou podemos apimentar nossa história com autodesenvolvimento, experiências novas, diversão e atividades agradáveis e trabalho significante. Nós também podemos determinar nossa atitude em relação a capítulos prévios: podemos considerá-los como falhas e lamentá-los, desejando esquecê-los o quanto antes ou aceitá-los como eles realmente são: tijolos que contribuíram para a construção da pessoa que nós somos hoje, e a pessoa que nós seremos no futuro.
No final das contas, não são os momentos gloriosos que agregam sabedoria para nós. São as experiências menos agradáveis, das quais nós podemos nos sentir menos orgulhosos, ter uma pontinha de tristeza ou vergonha. Esses são os momentos que nos moldam como seres compreensivos, compassivos e que formam os alicerces para a sabedoria que nós passamos a compartilhar com as gerações mais jovens. Uma vez mais eu me dei conta disso na semana passada, no meu primeiro seminário deste semestre: Eu falei para os participantes sobre um grande desafio que eu enfrentei há uns vinte ou mais anos atrás. e o fato de que eu não tinha entendido como aquilo tudo seria bom. Mas agora eu posso me servir daquela riqueza enorme de experiências bonitas e menos notáveis, robustas e frágeis, claras e complicadas, iluminadas e escuras, e usá-las como exemplos para alargar os horizontes desses que valorizam isto. Apagar o passado? Eu não penso assim…
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Joan Marquesé
emigrou do Suriname, América do Sul, para a Califórnia, EUA, em 1998. Ela é Doutora em Liderança Organizacional, Mestre em Administração Empresarial e professora universitária em Negócios e Administração em Burbank, Califórnia. Procure os seus livros "Empower the Leader in You" (Potencialize o Líder em Você) e "The Global Village" (A Aldeia global) em livrarias on-line ou no seu website : www.joanmarques.com
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© Copyright 2012 Adolfo Breder ([email protected] ) da versão do texto original em inglês:
- The gift of our past
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