Pupilas dilatadas, coração acelerado, respiração entrecortada, posição de largada, ouvido atento ao sinal sonoro, controle total da situação, pés transpassando a faixa amarela. A corrida vai começar. O pódio é o assento.
Longuíssimos segundos são interrompidos pela cigarra estridente que aciona as portas corrediças e suspendem temporariamente as leis da cidadania e as boas maneiras.
Esgueirar-se languidamente pelos vãos entre os corpos em oposição, pisando em outros pés, enganchando-se em bolsas, amassando com cotovelos camisas cientificamente passadas com moderníssimos jatos de vapor, tomar posse e acomodar-se.
Novamente vai ser possível restabelecer a calma. Vitória alcançada. Sublime olhar oblíquo de campeão da modalidade, observando a miríade de derrotados postados de pé, lançados para frente, para trás e lateralmente a cada solavanco e freada.
Hora de fechar os olhos para a realidade à volta e deixar a vida fluir até o próximo pit stop. Nada de se incomodar com as barrigas avolumadas, traseiras rechonchudas, pacotes obtusos, crianças chorosas e idosos inseguros.
Se possível, completar o êxtase com fones de ouvidos espetados bem fundo e explodindo em toques escolhidos a dedo para a celebração das emocionantes conquistas diárias. |