Em Tempos Modernos há uma cena antológica onde Carlitos, no intervalo da linha de produção, é alimentado automaticamente por uma máquina que mantém seu ritmo mecânico a despeito da capacidade de reação do operário.
A informação automática, veloz, tecnológica e infinita está disponível em cada lan house, netbooks, caixa de banco, smartphones etc. Estamos expostos a uma tsunami de dados cada vez mais caudalosa.
A Internet, nos últimos 20 anos, tem sido a grande impulsionadora do fenômeno. O conhecimento acumulado há milênios está (quase) todo disponível na sua teia mundial. Nem tudo tem qualidade e utilidade. Nem tudo está muito evidente e, quase sempre, espalhado em fragmentos aqui e ali.
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Na minha adolescência aprendi a ler os livros com a mesma destreza com que degustava as sardinhas, cuidando de separar carne e espinhos . As estantes exibiam lombadas que não valiam a encadernação primorosa e os frisos dourados. Também continham brochuras que incentivavam a leitura de outros volumes, visitas a dicionários, reflexões compartilhadas e um respeitado hábito saudável.
Lembro-me de pessoas que se dedicavam a decorar e declamar poemas muito longos. Sempre admirei suas memórias privilegiadas. Mas nunca desenvolvi esta capacidade. Meus livros sempre foram rabiscados, anotados e destacados, para facilitar futuras pesquisas e releituras dinâmicas. Acho que levei a história da sardinha a fundo e cada página foi sendo analisada independentemente.
Conheci pessoas que compraram coleções de livros somente para enfeitar suas estantes de madeira nobre. Jamais folhearam um volume sequer. Comparativamente há pessoas apaixonadas com o universo da informática. Exibem seus equipamentos de última geração, conhecem tudo sobre a ferramenta, mas não a usam para o seu crescimento intelectual, cultural e moral.
Já na faculdade de Física aprendi outra importante contribuição para o nosso tema: perguntar é mais importante que responder .
No meu modo de ver a conjugação desses dois ensinamentos simples leva-nos a conclusões sobre a interseção da informática e educação.
Aí está a Internet, seu ponto central, que como um buraco negro sideral atrai a tudo e a todos, tendo que ser degustada criticamente como a sardinha frita da Praça Mauá. E a maravilha do Google transforma o antigo e complicado problema da busca de uma agulha perdida num amplo palheiro num exercício de formular perguntas.
Talvez se Arquimedes ** estivesse hoje entre nós, diria: "Dai-me uma boa pergunta e eu erguerei o mundo".
Se a Escola dedicar-se a ensinar a perguntar e a criticar terá na Informática não a informação automática dos tempos modernos, mas a informação automatizada: acessível, disponível, ágil, representativa da diversidade humana, formadora de opinião, suporte para a tradição dos conhecimentos, atualizando a própria Educação de forma saborosa e apetitosa.
** Arquimedes de Siracusa (287 a.C. - 212 a.C.), era matemático, engenheiro, inventor e físico grego. Sua frase original"foi: "Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio erguerei o mundo".
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