Buscar traduzir métodos e ferramentas gerenciais para a Vida das pessoas sempre foi um desafio interessante, e felizmente encontrei no Coaching uma ciência que abarcasse esses conceitos de desenvolvimento humano por um caminho mais racional. Pesquisando sobre a Gestão da Mudança e Gestão de Conflitos nas organizações, enxerguei paralelos entre as resistências causadoras de conflitos e resistência à mudança e os diversos tipos de preconceito e discriminação existentes na sociedade.
Primeiramente, para fins de conceituação, denomino como preconceito a crença que se estabelece em relação a um alvo (indivíduo, grupo, sociedade ou objeto) antes mesmo da experiência de convivência. Já a discriminação é o conjunto sentimento-ação que é gerado a partir dessa crença, sendo traduzida na forma de expressão contra o alvo do preconceito. Sendo assim, preconceito e discriminação seriam conceitos correlacionados, porém distintos: não necessariamente quem tem preconceito discriminará o alvo de seu preconceito. Entretanto, quem discrimina (sentimento mais ação) necessariamente teve preconceito (pensamento) em relação ao seu alvo. Sendo assim, eliminar discriminações é um trabalho de entender e atuar sobre os preconceitos, as suas causas geradoras.
Não discriminar quem tem preconceito é o primeiro passo para tratar este delicado assunto de maneira séria e equilibrada. É preciso inicialmente buscar entender esta forma de expressão da sociedade. Sendo assim, utilizando os pressupostos do Coaching e as estratégias de gerenciamento de mudanças e conflitos nas organizações, este artigo sugere soluções mais eficazes de atenuarmos e, quem sabe um dia, eliminarmos as dores provenientes de preconceitos e discriminações na nossa sociedade.
Um dos pressupostos do Coaching é que o mapa não é território, ou seja, há uma diferença incontestável entre a realidade e a experiência de realidade. Toda pessoa tem seu próprio modelo mental, que é o seu mapa do mundo, e nenhum mapa de alguém é mais real ou verdadeiro que o mapa dos outros. Não é o "território" ou a "realidade" que limitam as pessoas, mas sim as escolhas disponíveis percebidas através de seus mapas. Cada ser humano cria sua própria realidade. A chave para apoiar e influenciar as pessoas é entrar no seu modelo de mundo. Neste sentido, é preciso entender que na cabeça de um preconceituoso o seu preconceito é uma verdade muito útil, que lhe traz ganhos de sobrevivência. Ele entende que a vítima de seu preconceito representa uma ameaça à sua ilusão de preservação, dominação e liderança. E o mais interessante é que isto vale tanto para quem discrimina quanto para quem é vítima do binômio preconceito-discriminação, e discrimina o autor inicial do preconceito, em vez de buscar entendê-lo, educá-lo e envolvê-lo.
Aqui temos, então, a primeira chave da mudança: buscar entender o mapa mental daquele que tem preconceito, identificando suas crenças de ameaça, e mitigando-as através de aceitação e educação. Esta educação envolve esforços como:
Buscar entender os preconceituosos e suas crenças, deixando que esclareçam suas percepções de quem discriminam, e trazendo à consciência elementos muitas vezes subliminares do preconceito;
Mostrar que as diferenças entre as partes são mínimas, se não inexistentes (biologicamente os seres humanos diferem entre si apenas em 1% do código genético);
Mostrar que uma parte não representa ameaça à sobrevivência da outra;
Mostrar exemplos práticos de semelhança entre vítimas de preconceito e preconceituosos, utilizando fatos e dados, comprovando que são nulas as bases científicas da diferença de identidade e comportamento;
Mostrar, através de casos bem sucedidos de integração discriminante-discriminado, que o ganho de todos significou o crescimento do sistema como um todo e, conseqüentemente, dos indivíduos nele inseridos;
Mostrar as perdas provenientes dos conflitos, e os impactos a longo prazo na individualidade dos que discriminam e dos que sofrem discriminações;
Recompensar e comunicar os esforços e ganhos obtidos por meio de trabalhos bem sucedidos de mitigação de preconceito em alguma organização, seja empresa, cidade ou a sociedade como todo.
Vale ressaltar que casos graves de preconceito e discriminação, envolvendo assédio moral, violência verbal ou física, devem ser rigidamente combatidos, através de punição e comunicação educativa para a sociedade como um todo, elucidando o fato e mostrando a incongruência lógica da sucessão percepção-pensamento-sentimento-ação que gerou tais crimes.
Outro pressuposto do Coaching muito utilizado é o de que as pessoas fazem a melhor escolha possível em determinado momento, dadas as condições e recursos de que dispõem. Todo comportamento tem intenção positiva. Aquele que tem atos preconceituosos busca proteger seus valores. Aquele que discrimina o outro opta pela estratégia de ataque, já que em sua consciência há o temor constante de ser atacado ou até mesmo confrontado em sua verdadeira essência a partir da convivência com o discriminado. Caso lhe fosse dada uma melhor escolha, de acordo com seus valores e crenças, então esta é que seria realizada. É aí que novamente se aplica o Coaching : ele busca a solução, acredita em todo ser humano e defende que qualquer indivíduo pode desenvolver qualquer competência, e provavelmente fará melhor aquilo que faz atualmente, gerando resultados mais satisfatórios.
O objetivo deste artigo foi discutir opções de escolha para os que têm preconceitos e discriminam, gerando assim novos elementos para o combate às diversas formas de preconceito (racial, religioso, cultural, orientação sexual, condições físicas, etc.). Todos nós já possuímos os recursos que precisamos; caso contrário, podemos criá-los. Não existem pessoas sem recursos, há apenas estados mentais sem recursos. Nossa sabedoria mais densa está esperando para ser descoberta. A questão é saber como ajudar as pessoas a terem acesso aos novos recursos, quando adequados.
Não podemos ter a ambição de exterminar preconceitos: eles sempre existiram e sempre existirão. Aqueles que se embasarem nos pressupostos antropológicos, perceberão que é instintivo ao ser humano rotular e classificar quem é "semelhante" ou não, se representa proteção ou ameaça à sua existência. Há linhas teóricas que efetivamente defendem o preconceito como forma de controle social, evitando conflitos desnecessários entre partes com ideologias diferentes.
Acabar com os preconceitos é utopia, mas é fundamental eliminarmos as discriminações. A partir de ações educativas, conseguiremos muitos ganhos de convivência e, assim, a evolução contínua de nossa sociedade.
Sucesso e saúde, hoje e sempre,
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