Na estrada do tempo, a "Amélia" pode estar em qualquer ponto - entre a Eva e a Eva Byte - fazendo coisas bem diferentes: Parada, olhando a banda passar, na janela sem se dar conta de que o tempo passou; dando para qualquer um, mas salvando vidas ou até em movimento como uma metamorfose ambulante. Pode estar em Ipanema, a caminho do mar, num doce balanço; rondando a cidade, depois de ter ido a um baile usando um band-aid no calcanhar ou em Paquetá, usando um biquini de bolinha amarelinha - canta Criolo Doido!
Tantas outras mulheres foram cantadas (no sentido musical, claro!) em prosas e versos: Maria, Isaura (do fundo do baú da minha mãe), Emília (que fez falta), Maria Helena (a que era inspiração), Ana Maria (a do biquini que cabia na palma da mão), Conceição (lembra-se?), Sandra Rosa Madalena (Sidney Magal - puxa! "peguei pesado"), Marina (a que se pintou), Madalena (a Madá), Gabriela (que nasceu assim, vai ser sempre assim...), Mônica (a do Eduardo), Bete (que balança), Yolanda (a eterna), Ana Júlia ( a a a ..), Florisbela e até Florentina (Tiririca! ninguém merece.). Mas entre todas e tantas outras, só a Amélia é era mulher de verdade. Era?
Era? Era em quê sentido? Era por que morreu? Por que deixou de ser? Porque queimou o sutiã e emancipou-se. Caiu na real. Fez curso de empreendedorismo no Sebrae, aprendeu inglês, francês e japônes. Concluiu faculdade, pós-graduação, MBA, (e hoje é CEO de uma multi) ou foi embora com um um "homem de verdade"? Fala sério! Acho que a tal Amélia que cantam (lembre-se: na música!) só era de verdade porque o homem era de mentirinha. Ou será que a história é diferente?
Não podemos descartar a possibilidade do poeta - agora arrependido - ter ido embora, trocando a Amélia, que não tinha nenhuma vaidade, por aquela outra, linda, cheirosa, elegante e que fazia um monte de exigências. Esta versão circulou em 1994, num artigo, publicado na Playboy, no qual a autora, Rita Kehl, levantou a possibilidade do poeta (quando ainda não estava arrependido) ter perdido o tesão pela companheira - a Amélia - que havia se transformado na super-mãe, na amiga-do-peito e na grande camarada dele - não do Lula!
Talvez a Amélia fizesse todo dia sempre igual, cheirasse a alho, usasse avental e calçasse chinelos de pano. Ou, quem sabe? estivesse deprimida, sem vontade de lutar, sem apetite, sem agressividade, sem tesão e sem percepção dos seus próprios desejos.
Mas... Sejamos justos: há pontos admiráveis no comportamento da Amélia: ela não ligava para a conta bancária do parceiro; não enchia o saco dele, não exigia e não reclamava. Sabia ser amiga, compreensiva e solidária. Amélia poderia ter sido, já naquela época, o que hoje chamamos de uma mulher emocionalmente inteligente.
Ok, ok!.. Você pode estar pensando também que, por outro lado, ela poderia " ter cobrado", dado força ou ter tido uma postura pró-ativa. Tudo bem... também acho. Só que a mesma substância pode ser veneno ou remédio dependendo da dose.
Seja lá como for, ou como você acredite ser, hoje, em 2005, é perigoso chamar uma mulher de Amélia. Ao contrário de se sentir elogiada, ela - a mulher - poderá interpretar como ofensa. Não tenho conhecimento da existência de nenhuma "Associação Protetoras das Amélias em Extinção" e nem acho verossímil existir, porque as mulheres já se convenceram de que podem - e devem - ser muito mais do que esposas e mães. Um número cada vez maior de mulheres vem se destacando e mostrando ao mundo o seu real valor seja na família, na sociedade no mercado de trabalho e na política.
A verdadeira mulher de hoje sabe "exigir" (com sabedoria) respeito, companheirismo, cooperação. Assume seus desejos, reivindica seus direitos e cumpre seus deveres. Tem consciência moral e ecológica e é socialmente responsável. Sabe administrar seu tempo dividindo-o com a família, com o trabalho ( inclusive o voluntário) e consigo mesma.
De Eva - a da maçã - à Eva Byte - a "informáticamente fantástica" - muitas transformações e mudanças aconteceram e continuarão acontecendo, mas, acredito, que não vão mais afirmar que a " Amélia é que era de verdade".
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