"Nosso caráter é resultado de nossa conduta." (Aristóteles)
Desde 1996 atuo voluntariamente em associações e entidades. Quer saber a
verdade? Comecei nisso por mero interesse pessoal.
Eu era fabricante de brinquedos metálicos para playground, entre outros
itens. Um dia, decidi certificar meus produtos com o objetivo precípuo de
ter um diferencial competitivo em relação à concorrência. O raciocínio era
simples: se meu produto tivesse um selo de qualidade eu certamente poderia
atuar no mercado com um preço premium, o que me garantiria maior rentabilidade.
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Porém, para chegar lá, era necessário criar as normas que regulamentariam o
mercado. Procurei o Inmetro que instituiu uma comissão de estudos formada
por diversos fabricantes, laboratórios técnicos de certificação e órgãos de
defesa do consumidor.
As primeiras reuniões foram terríveis, com um corporativismo latente.
Fabricantes de brinquedos de madeira insinuavam que os metálicos eram
perigosos porque esquentavam sob o sol e poderiam provocar queimaduras nas
crianças. Os fabricantes de produtos em aço, por sua vez, argumentavam que
os brinquedos de madeira soltavam farpas que também eram ofensivas. Enquanto
isso, os importadores de brinquedos de plástico injetado assistiam a tudo de
camarote. Detalhe, nos anos de 1990 ainda não se falava em preocupações de
cunho ambiental.
O fato é que após alguns encontros, com intensas discussões e constantes
estudos das normas em vigor nos Estados Unidos e na Europa, subitamente um
senso de civismo (e civilidade) tomou conta de todos os atores daquela
comissão. A norma que estávamos elaborando era especificamente voltada não à
qualidade, mas à segurança dos produtos fabricados e comercializados. Foi
quando adotamos um princípio básico: o brinquedo pode ser até de cristal,
desde que não comprometa a integridade dos usuários - as crianças.
Assim nasceu a NBR-14350/1999 (segurança de brinquedos de playground). Como
secretário-geral daquela comissão que se reuniu mensalmente ao longo de dois
anos, tenho hoje a alegria de saber que deixei um legado, mesmo não atuando
mais naquele segmento empresarial. Foi quando aprendi o propósito e a força
do associativismo.
Desde então, participei de várias iniciativas como a salvaguarda contra
brinquedos importados da China, a supressão da CPMF e, mais recentemente, o
Feirão do Imposto, promovendo a conscientização da população com relação à
carga tributária embutida no preço dos produtos.
Toda esta experiência permitiu-me chegar a algumas conclusões:
1. Você é voluntário até começar a participar. Integrar uma associação ou
entidade é uma decisão pessoal. Contudo, uma vez assumido o compromisso,
você se torna responsável pelo cumprimento de um planejamento estratégico
previamente formulado e pela defesa dos propósitos que norteiam a missão da
organização. Esta é uma mensagem àqueles que atuam diretamente na gestão.
2. Participar não se resume a pagar mensalidades. A contribuição mensal é o
bem menor que você pode legar. É limitado e superficial acreditar que basta
depositar alguns reais por mês em favor da entidade e exigir que os outros
lutem por seus interesses. Você precisa participar ativamente de reuniões,
debates e eventos. Esta é uma mensagem aos associados.
3. O interesse coletivo se sobrepõe ao individual. O nome do jogo não é
vencer, mas convencer. Isso significa ter flexibilidade e nenhum compromisso
com o erro. Em alguns momentos seu argumento é mais fraco e você perde. Mas
a derrota de hoje pode ser a vitória de amanhã.
4. O inimigo deve ser eleito com critério. O adversário deve ser nomeado
coletivamente. Com rapidez você descobre que ele não é o concorrente na sala
ao lado, mas sim a estrutura tributária paranoica, os entraves à
competitividade, a economia informal, o produto importado com câmbio
favorável e qualidade questionável.
5. As batalhas devem ser escolhidas com sabedoria. A questão não é debater
demandas específicas, de caráter conjuntural, mas sim buscar a
regulamentação de um setor ou mudanças estruturais. É trocar o benefício de
curto prazo, transitório, por avanços de longo prazo, duradouros, capazes de
promover a geração de emprego e renda.
Muitas vezes temos o mau hábito de criticar sem oferecer alternativas,
praguejar sem dialogar, julgar sem refletir. E, assim, terceirizamos a culpa
como indulgência pessoal à nossa própria negligência.
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Tom Coelho é educador, conferencista e escritor com artigos publicados em
17 países. É autor de "Somos Maus Amantes - Reflexões sobre carreira,
liderança e comportamento" (Flor de Liz, 2011), "Sete Vidas - Lições para
construir seu equilíbrio pessoal e profissional" (Saraiva, 2008) e coautor
de outros cinco livros.
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