Longo feriado de carnaval. Tempo de sobra. Fugi dos batuques e fui passear numa reserva natural. Não havia quase ninguém lá. À beira da mata havia um banco de madeira e, de lá, a visão do alto penhasco. Como vocês podem ver um cenário apropriado para a contemplação.
Pensei em sentar-me ali apenas por alguns minutos, fazendo uma pausa da caminhada. Inicialmente apenas percebi uma densa massa de ruídos característicos do ambiente. Parecia incompreensível. Tão diferente dos roncos dos motores, das freadas dos coletivos, dos bips dos rádios dos motoboys e dos apelos dos feirantes!
De repente distingui o canto de um sabiá. Mais atento, ruídos de grilos, outros mais longe e mais longe. Acabei permanecendo mais de uma hora exercitando-me em identificar cada um dos componentes daquela maravilhosa sinfonia natural, aprofundando camada por camada.
Lembrei-me de como meu irmão mais velho, Fred, nos fazia ouvir repetidas vezes rocks antigos para identificarmos cada instrumento das bandas e suas melodias. Aquela brincadeira era uma forma de treinamento. Será que ele mesmo tinha consciência disso? Vou ficar sem a resposta, ele não está mais entre nós.
Busco utilizar essa habilidade adquirida em inúmeras situações. Em conjuntos de instrumentos musicais ou de vozes descobri novas sensações. É uma delícia, quando todos estão afinados mas, quando identificamos deslizes circunstanciais, nosso tímpano logo avisa com uma intrépida coceirinha.
Em reuniões, eventos, conversas ao telefone... podemos fazer o mesmo exercício. No começo ouvimos um burburinho. Depois, vamos intensificando a percepção de camadas de sons, cada vez com mais detalhes. Assim, enriquecemos a nossa capacidade de reconhecer intensidades, ritmos, tonalidades e distinguir as emoções que elas transmitem.
Nesta fase, estamos partindo para o mais importante estágio da comunicação sonora: a escuta. Ela representa o processamento que leva à compreensão dos significados dos sons, dos silêncios, das falas. O treinamento aqui é necessário para se tornar consciente a percepção.
Você já prestou atenção às mensagens encapsuladas no silêncio? Ouça o silêncio em profundidade. Ele marca o ritmo da comunicação, sublinha emoções escondidas e delimita camadas de informações importantes.
Ao treinar para ouvir e escutar, você desenvolve sua empatia e passa a reconhecer a ampla riqueza das freqüências que nos cercam em cada situação. Escolha com quais vai fazer sintonia e... bons relacionamentos... bons negócios... boa comunicação!
Adolfo Breder ([email protected]) é o fundador da Callmunity, atuando como consultor e palestrante nas áreas de Responsabilidade Social, Marketing de Relacionamento, Telesserviços e Telecomunicações. É criador e gestor do projeto social Escola de Talentos, editor do site Callmunity.com, colunista do portal Nos da Comunicacao, Conselheiro de Usuários da TIM BRASIL, atuando há anos como membro do juri do Prêmio ABERJE de Comunicação Empresarial.