1. Desapego pessoal e da qualidade do diálogo coletivo (Conscientização),
2. Das regras para ingresso e evolução das próximas gerações (Preparação),
3. Do compromisso fechado para que, terminantemente, a família passe a trabalhar para a empresa, não mais a empresa para a família (Acordo).
O obstáculo para se dar início à conscientização, é o entendimento por parte do titular da necessidade de começar a fechar seu ciclo de trabalho e dar espaço para a abertura dos ciclos das gerações seguintes. Caso não seja o momento de encerrar sua carreira, oferecer condições para que familiares possam compartilhar as atividades da empresa, no âmbito profissional. No decorrer do tempo ocuparão cargos estratégicos para a sucessão, que significa a garantia do futuro do negócio e do patrimônio.
No caso, como titular, considero o fundador ou o parente diretor com significativo tempo no comando da empresa, quem inclusive, esteve lado a lado com o fundador nos melhores e piores momentos.
A questão central do titular é emocional, é de apego ao que foi construído em longos anos, ao orgulho pela vitoriosa jornada, aos elos sentimentais com pessoas que cresceram em torno do seu empreendimento (familiares, equipes, clientes e fornecedores); de apego às alegrias e tristezas, aos altos e baixos, às recordações que fazem o coração bater diferente.
Afeto, alegrias, desgostos, orgulho, carinho... sacudidelas ou abalos emocionais, os quais, por natureza humana, são impossíveis de serem medidos, administrados, tratados dentro de uma lógica. O titular sabe da importância da sucessão, com absoluta firmeza, alerta e aconselha os amigos, porém, ele próprio recua ao ter o impulso para iniciar a preparação de parentes e a descentralização do comando. Fica preso ao íntimo emocional, que passa por cima da razão e atropela as providências profissionais, como reunião com o grupo familiar, contratação de um consultor externo, idealização de planejamento, cronograma, estratégia, definições de cargos e funções, etc., enfim, atitudes para se implantar uma sólida gestão familiar.
Ocorre que, num dado instante, por força da concorrência no mercado, da idade ou saúde, vai ser obrigado a colocar a razão acima da emoção, a convocar familiares e dar a partida nos planos para preparação, desenvolvimento de parentes e sucessores no negócio.
Assisti a uma cena que acabou por estimular interessantes reflexões a respeito do ambiente da gestão familiar. Na Sala de Espera do hospital, os filhos conversavam sobre a delicada enfermidade do pai. Pouco depois, já discutiam a situação da matriz e filiais. Chegaram a mãe e uma prima e o local virou sala de reunião sobre o negócio.
Debatiam as opções: em caso de fatal ausência do titular, de restabelecimento parcial, total e de retorno.
Atentamente, observei as conversas, as opiniões se cruzavam e as divagações se espalhavam em bando. Juntei os pontos em comum dos três e foi possível desenhar o quadro:
O empresário em cima da cama, o dinheiro embaixo do colchão, do lado de fora a empresa confusa por sua centralizadora dependência, a família desinformada para segurar as rédeas financeiras, despreparada para convivência entre os parentes e a equipe que viabilizasse liderança na administração da matriz e das filiais.
Deixei a sala de espera antes deles, mas ficou claro que a doença iria se alastrar pelos ambientes domésticos e empresariais.
Este quadro pode ser desenhado na maioria das empresas familiares de diferentes tamanhos e setores. A saúde humana não suporta as exigências da gestão conforme o progresso do negócio. Chega uma fase em que ela fica vulnerável aos excessos do empreendedorismo, da centralização, do peso da empresa, da idade. Aí ela reclama, extravasa, mostra o que a razão sinalizava e a emoção bloqueava: o ser humano sem a saúde vira um mero ser. O agravante na empresa familiar são as consequências colaterais nos mais próximos da exagerada centralização, a exemplo da família na Sala de Espera do hospital.
Por outro lado, quando a gestão familiar é encaminhada com tempo e critério, os avanços da empresa serão bem sustentados e os conflitos profissionalmente debatidos. Resultados ocorrerão iluminados pela conscientização e treinamento de todos para o cotidiano do mercado. Quando os fatos acontecem com a gestão ainda fechada em torno do titular, os impactos negativos irradiam estragos até mesmo irreparáveis e os pontos positivos deixam de ser concretamente multiplicados.
A então melindrosa fase de fechamento e abertura de ciclos ou apenas de entrada de novas gerações, demonstra o clima do casamento da filha, por exemplo. A menina namorou, ficou noiva, agora vai se casar. Os pais adoram o futuro genro, torciam para que a filha trocasse alianças no altar com ele. Porém, no dia em que os dois pombinhos foram dizer o "sim" na igreja... os pais choraram e rolou cascata de lágrimas pelos degraus do altar.
Por que tristeza se era para ser retumbante felicidade?
Há situações em que a mente tem dificuldade em conversar com o coração e vice-versa, em que a relação razão-emoção trava exaustiva luta interna; deste desentrosamento surgem complicadas contradições em que os humanos ficam à deriva. Visivelmente, a razão mostrava que aquela era a pessoa certa para se casar com a filha, entretanto, das profundezas o coração se recusava a ceder um pedaço.
O afeto pela empresa cria igual estado de conflito racional-emocional: o titular percebe, sabe, reconhece que está na hora de tirar o pé do acelerador, de dividir ou entregar a direção, mas o coração dá o nó no peito e o faz recuar.
A grande diferença para a empresa não-familiar é que, nesta, quem sobe ao altar não é a filha, o titular está na igreja como convidado e o estado emocional sem pressão.
No percurso da especialização em gestão familiar, a Consultoria de Impacto concluiu:
Tão importante quanto a badalada preparação de sucessores, é a preparação de titulares, em particular no Brasil, cuja raça tem um percentual emocional superior aos das nações que empresarialmente servem de modelo. Esta constatação gerou o tema "Empresa familiar: como unir experiência e modernidade" para cursos e palestras.
A boa notícia é que existem meios, alternativas para composição das gerações com ajustes de espaços, demarcações de funções, ganhos de realização profissional, de segurança e motivação.
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